Década de oitenta..nós usávamos tênis All Star e roupas em tom pastel. Todo caçula da ditadura se sentiu o próprio Maior Abandonado nas conquistas da adolescência, estudamos na escola pública, brincamos na rua, ouvimos músicas em fitas K7, dos algozes da ditadura só ouvimos falar.
Crescemos sem ideais, sem lutas, somos de uma geração café com leite, feito coca-cola quente. Vimos nossos heróis morrerem, de overdose , inclusive. O país pediu Diretas Já, mas a nossa ingenuidade permitiu que a expressão máxima de rebeldia fosse pintar a cara e sair às ruas anos mais tarde pedindo “...Brasil mostra a sua cara quero ver quem paga pra gente ficar assim...”
Percebemos que “não fomos convidados pra essa festa pobre”, que a burguesia fede e só valoriza quem sabe levar vida fácil e enquanto houver burguesia não vai haver poesia. Mas sobrevivemos sem um arranhão, porque o tempo não para.
Sem ideologia, os segredos de liquidificador foram esquecidos, o sonho de ter a sorte de um amor tranquilo deu lugar a solidão a dois de dia.
Essa é a geração tão bem representada na poesia de Cazuza, continuamos perdidos sem pai nem mãe, mas agora na porta de nossas próprias casas, melancólicos do tempo do “...te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor...”
Cazuza foi a doce rebeldia que cantou a alma da geração coca-cola....vida louca vida, vida breve, já que eu não posso te levar quero que você me leve...
A irreverência e genialidade do poeta exagerado, fizeram como que as cordiais mentes dos adolescentes e primarias da época, que se viam confusas e desiludidas com o andamento do país e que tinha mudado tantas vezes de “ideia”, que, sentiam-se compelidos a buscarem um lugar que pudesse identificar como seu naquele panorama, diante de uma sequencia desastrosa de governos de:, Sarney , Collor e Itamar, planos econômicos absurdos, confiscos de poupança e especialmente por uma sociedade apática que não reagia diante de desigualdades inacreditáveis e resquícios de ditadura, foram bombardeados por um arsenal poético denso e contundente a ideologia crítica, que o consagrou como um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Diante dessa celebração que reporta o Tabuleiro Rainha & Peão, trás a excêntrica clareza de que o poeta continua vivo dentro de nós, e seu legado faz parte do meu show.
ResponderExcluir